O ajuste fiscal de Dilma Rousseff
promoveu no Congresso uma inusitada inversão de papeis. A oposição,
tratada pela CUT como algoz dos trabalhadores por ter ajudado a aprovar
na Câmara o projeto da terceirização de mão de obra, decidiu dar o troco
ao PT na mesma moeda. Mandou confeccionar cartazesiguais aos
que a central sindical petista usou para atacar os rivais. No alto, o
vocábulo “Procurado”. No meio, as fotos de congressistas do PT. No
rodapé, o crime cometido contra o trabalhador e a recompensa pela
captura: “Um país melhor.”
O pacote fiscal de Dilma chega ao
plenário da Câmara nesta semana. Deve começar a ser desembrulhado na
sessão de terça-feira (5). Inclui regras que reduzem o valor de
benefícios trabalhistas e previdenciários —pensão por morte,
auxílio-doença, abono salarial, seguro-desemprego e seguro-defeso. A
exemplo do que faz com a terceirização, a CUT critica essas
providências. Mas o PT, sob pressão do Planalto, terá de votar a favor,
tornando-se alvo da vingança dos seus rivais.
Além da confecção dos cartazes, os antagonistas do PT se equipam para extrair das sessões de votação do ajuste de Dilma o maior proveito político que a ocasião puder proporcionar. Líder do DEM, o deputado pernambucano Mendonça Filho decidiu, por exemplo, requerer a votação em separado de todos os artigos que mexem em direitos do trabalhador.
Previsto no regimento interno da Câmara,
esse tipo de procedimento produz dois efeitos. Num, abre brecha para a
realização de várias votações nominais —uma para cada trecho destacado.
Em cada votação, os “procurados” petistas deixarão suas digitais no
painel eletrônico. Noutro efeito, a tática do DEM obrigará o governo a
mobilizar sua infantaria, sob pena de permitir que a sessão caia por
falta de quórum numa das várias votações que devem ocorrer.
Também alvejados pela CUT, parlamentares do PMDB hesitam em aprovar os ajustes enviados por Dilma ao Congresso. A hesitação aumentou depois que a presidente e seu padrinho, Lula, engrossaram o coro da CUT contra a terceirização. Para votar o pacote do governo, um pedaço do PMDB exige que central sindical vinculada ao petismo avalize em público o pacote de Dilma, atestando que ele não prejudica o trabalhador.
De resto, o presidente peemedebista da
Câmara, Eduardo Cunha, decidiu abrir as galerias da Casa para que a CUT
acompanhe a votação do ajuste fiscal. Na apreciação da proposta de
terceirização Cunha fizera o oposto, vetando o ingresso da claque da
CUT. Agora, com ironia escorrendo pelos cantos da boca, Cunha diz ter
refletido melhor. Concluiu que o acompanhamento da CUT é essencial.
Postado por Josias de Sousa
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