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domingo, 19 de abril de 2015

Hoje é dia do indio


ÍNDIOS DO RIO AÇU

História do povo Otxucaiana, também chamado Tarairiú, que habitava a Ribeira do Açu, nas terras do Rio Grande do Norte.
Autor: Benedito de Sousa Melo

01. Caboclos da minha terra,
Peço vossa inspiração,
Para contar a história
Dos índios do meu Sertão,

Que tinham muita coragem,
Mas foram postos à margem
Pelas forças da opressão.

02. Na roda-viva do tempo,
Já foram donos de tudo:
Serra, várzea e tabuleiro,
Bicho pequeno e graúdo;
O que deixaram, de herança,
Pouco resta, na lembrança,
Quase tudo ficou mudo.

03. A Ribeira do Açu,
Há muitos tempos atrás,
Era habitada por índios,
Nossos bravos ancestrais,
Perambulando na terra,
Desde a várzea até a serra,
No meio dos catingais.

04. Chamavam-se Potiguara,
Os índios do litoral,
No tempo das conhecidas
Grandes piscinas de sal,
Naturalmente formadas
Nas planícies alagadas,
Onde seria Macau.

05. Tarairiú era o nome
Dos índios do interior,
Que, outra língua, falavam,
Sendo um povo lutador;
Usando tacape e dardo,
Depois de haver dançado,
Guerreavam sem temor.

06. Os Potiguara viviam
Na vizinhança do mar,
Onde hoje é Paraíba,
Rio Grande e Ceará;
Falavam língua tupi
E utilizavam tingui
Quando queriam pescar.

07. Os índios Tarairiú
Eram donos do Sertão;
Possuíam muitos chefes,
Cada um mais valentão;
Do Assú ao Seridó.
Lutaram, num corpo só,
Contra a colonização.

08. Chamava-se Janduí,
Um índio longevo e forte,
Que viveu mais de cem anos(1),
Até que lhe veio a morte;
Chefe de muitos guerreiros,
Corajosos e ligeiros,
Que duelaram com a sorte.

09. Esculpiam, no jucá,
Suas bordunas temíveis;
Quando partiam pra luta,
Eram sujeitos terríveis;
Além de bons corredores,
Não padeciam temores,
Estes guerreiros incríveis.

10. As mulheres eram fortes,
Além de muito jeitosas,
Traziam pernas robustas
E maneiras decorosas;
Plantavam batata e milho,
E conduziam seus filhos,
Nos afazeres das roças.

11. Kuniangeya era o nome
Do vale do rio Açu;
Otxucaiana era o povo,
Ou, também, Tarairiú,
Que dominou esta terra,
E sabia fazer guerra,
Que assustava urubu.

12. Então vieram colonos
Das bandas de Pernambuco,
Ocuparam todo o vale,
Com gado, para ter lucro,
E fornecer aos engenhos,
Minas e outros empenhos;
Nisso, o índio ficou puto.

13. Junto com esses colonos,
Os negros também chegaram;
Capturados no Congo,
Os traficantes ganhavam
Dinheiro, com suas vendas,
Para a lida nas fazendas,
Que os colonos fundavam.

14. Já faz quatrocentos anos
Que negros pisam este pó;
Trouxeram muitos saberes,
Que sobrevivem ao redor;
Também, nove baobás,
Para honrar os ancestrais,
Plantaram no Piató(2).

15. A Ribeira do Açu,
Mirada, foi, por franceses,
Que não fundaram colônia,
Mas vieram os portugueses,
Que traziam seus zagais,
Para cuidar dos currais,
Com touros, vacas e reses.

16. Era um tempo de disputa
Dos Estados europeus,
Que buscavam alianças
Para os interesses seus;
Aliciavam os nativos,
Para fazê-los cativos,
Usando o nome de Deus.

17. As tramas, que eram urdidas,
Os nativos percebiam;
A pretexto de amizade,
As suas terras, queriam,
Pois capitães portugueses,
Em guerra com os holandeses,
Escravos, índios, faziam.

18. Há mais de trezentos anos,
Os holandeses tomaram
O Nordeste brasileiro
E, aqui, perambularam
Astrônomos, naturalistas,
Pintores, também cronistas;
Muitas coisas, registraram.

19. Os índios Otxucaiana,
Há muito tempo sabiam
Que os brancos portugueses,
As suas terras, queriam,
Pra transformar em curral;
Na extremidade do mal,
Índios, escravos, seriam(3).

20. Foi por isso que ocorreu
A memorável união
De milhares de guerreiros,
Vindos de todo o Sertão;
Armas de fogo, usaram,
Em cavalos, batalharam,
Pra não ter escravidão.

21. Foi na década de oitenta
Dos anos mil e seiscentos,
Que houve a Guerra do Açu(4),
Morrendo índios aos centos,
Que os bandeirantes mataram,
E os massacres duraram
Após mil e setecentos.

22. Fizeram muitas promessas
Aos chamados maiorais
Da Ribeira do Açu,
Para não lutarem mais;
Bem longe, eram levados
E, lá, seriam poupados,
Se não voltassem jamais.

23. Foi isso que ocorreu
Ao grande Rei Canindé,
Senhor de todo o Sertão,
Homem, menino e mulher,
Pois o Rei de Portugal
Prometeu não fazer mal,
Se o índio mudasse a fé.

24. Canindé foi batizado,
Junto com outros guerreiros,
Que rumaram pra missão,
Onde não foram os primeiros,
Que, para mudar a sina,
Sujeitavam-se à rotina
Dos padres missioneiros.

25. Os portugueses, contudo,
Não cumpriram o acordado,
Pois, acima da palavra,
Imperava criar gado;
Para a colônia aumentar,
Mais terras iam tomar,
Como fora projetado.

26. Os capitães portugueses,
Casas-fortes, construíam,
Para lutar contra os índios,
Que no sertão resistiam,
Do Assú ao Seridó,
Desde Acauã(5) ao Cuó(6),
Os capitães se escondiam.

27. Foi o tempo em que chegou,
Nesta frondosa ribeira,
Coberta de carnaubais,
Um tal Bernardo Vieira,
Que deixou feito um presídio
Para engaiolar o índio
Que praticasse "besteira".

28. Os parceiros holandeses
Já se haviam debandado,
Como parte de um acordo,
Com Portugal, celebrado,
E o povo Tarairiú,
Da Ribeira da Açu,
Foi sendo dilacerado.

29. Mas ocorre que as famílas,
Em muitas localidades,
Possuem traços indígenas,
Que têm visibilidade,
E guardam recordações,
Vivendo, por gerações,
Na mesma propriedade.

30. Casar-se primo com prima
É um costume existente,
De modo que tem lugar
Onde todos são parentes,
E transmitem, como herança,
A persistente lembrança
De antepassados valentes.

31. Falam de uma bisavó,
Cabocla muito "danada",
Pega a casco de cavalo,
Para fazer-se casada
Com um vaqueiro valente,
Dando origem àquela gente,
De natureza mesclada.

32. Têm diversos apelidos,
As famílias do lugar:
De Caboré a Cabôco,
Pacamom e Carcará;
São memórias ancestrais,
E pode saber bem mais
Qualquer um que perguntar.

33. Alinhavei estes versos
Com minhas palpitações,
Pois a história contada
Anda cheia de omissões.
Sou filho dos Carcará,
E vim aqui expressar
Minhas nativas pulsões.

Alto do Rodrigues/RN, março de 2013.

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