Fonte: TSE
Em 5 de
outubro, 142 milhões de brasileiros participarão do ápice da democracia:
as eleições. Todo o processo, da criação das regras ao cadastro de
candidatos, é organizado e fiscalizado pelo órgão máximo da Justiça
Eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Exportador de tecnologia
para disputas em todo o mundo e conhecido pela celeridade e
credibilidade nas apurações, o TSE ainda deixa a desejar quando o
assunto é o fornecimento de dados consistentes sobre os candidatos.
Embora possua um arquivo amplo e
disponibilize a cada eleição as informações básicas de cada candidato, a
instituição ainda precisa avançar na precisão e agilidade no cruzamento
dos dados. Não bastasse a dificuldade em captar as informações
armazenadas pela Justiça Eleitoral, o observador menos atento, ao
analisar aquelas disponíveis, encontrará inconsistências que
inviabilizam a comparação das declarações de bens dos candidatos e o
mapeamento da evolução patrimonial dos 24.447 pretendentes a um cargo no
Executivo ou no Legislativo.
Uma das dificuldades aparece ao se tabelarem todas as
informações disponíveis. Com base apenas nesses números, teríamos as
seguintes manchetes: “PSOL é o partido mais rico do Brasil”, “Em quatro
anos, dobram os bens dos petistas”, “O PP de Maluf duplica valor de
bens”, “Petista possui apartamento de 320 milhões de reais”,
“Esquerdista radical tem 2,1 bilhões em imóveis”. Essas notícias não
poderiam ser consideradas mentirosas, pois constam nas páginas dos
candidatos no TSE. Não refletem, porém, a realidade.
Os equívocos na declaração patrimonial são cometidos pelos
próprios candidatos, responsáveis diretos pelo repasse das informações.
Como não é prevista na legislação eleitoral o cruzamento dos dados com
aqueles de suas declarações de Imposto de Renda, abre-se espaço não
apenas para erros, mas para a má-fé de alguns pretendentes.
No caso do PSOL, o erro
partiu do candidato à Assembleia de Tocantins Fabio Ribeiro. Pequeno
empresário, Ribeiro equivocou-se na hora de declarar seus bens. Agora,
segundo o TSE, é o candidato mais rico do Brasil, com 2,1 bilhões de
reais em imóveis. O correto seria 2,1 milhões. Para Luiz Araújo,
presidente nacional da legenda, erros como esse poderiam ser sanados se o
sistema do TSE tivesse uma trava ou uma “crítica de consistência”. “É
fácil resolver. Se o sistema avisasse ao pretendente que a declaração
estaria fora do parâmetro, nós não teríamos esse problema.”
Ao menos outros dois partidos viram os
bens de seus integrantes aumentarem vertiginosamente por causa de erros
na declaração. O PT poderia ser citado como única sigla cujos candidatos
duplicaram seus bens entre 2010 e 2014. Entretanto, do total de 813
milhões declarados pelos 1.309 petistas, é preciso subtrair mais de 300
milhões de reais referentes ao apartamento declarado pela deputada
estadual Teresa Leitão, de Pernambuco, cujo valor correto seria 320 mil
reais. Também o PP, de Paulo Maluf, viu o patrimônio de seus políticos
duplicar nos últimos quatro anos por causa de um equívoco. O candidato à
Assembleia de Mato Grosso Layr Mota afirma em sua declaração ter um
sítio de 1 bilhão de reais e uma chácara de 900 milhões de reais. O
certo seria 1 milhão e 900 mil reais, respectivamente.
Claudio Weber Abramo, diretor-executivo
da ONG Transparência Brasil, responsável pela realização de
levantamentos empíricos baseados nas informações divulgadas pelo TSE,
afirma que o silêncio legislativo é o principal empecilho para verificar
a lisura das declarações. “A Justiça Eleitoral tem convênio com a
Receita para fiscalizar o teto das doações de pessoas jurídicas. No caso
das declarações patrimoniais, contudo, não há exigência legal para que
os dados batam com os do IR.”
A Receita costuma
utilizar dados eleitorais para verificar imprecisões nas declarações do
Imposto de Renda, mas o contrário não ocorre. “Para isso, basta o TSE
normatizar”, afirma Iágaro Jung Martins, subsecretário de fiscalização
da instituição. Como a declaração de bens não é confiável, a prestação
de contas de doações eleitorais de um candidato pode apresentar
distorções impressionantes. Nas eleições de 2012, o deputado petebista
Jovair Arantes, então candidato à prefeitura de Goiânia, declarou ter
doado para sua campanha 3,1 milhões de reais. Seu patrimônio declarado
no início da campanha não estava longe disso: 3,7 milhões de reais. “O
Ministério Público Eleitoral ignora solenemente esse tipo de caso”,
afirma Abramo.
Se avaliar a evolução patrimonial dos partidos é uma
tarefa quase impossível, analisar os ganhos de candidatos nacionalmente
conhecidos ou comparar apenas pretendentes de um mesmo cargo é mais
viável.
Entre os concorrentes à Presidência da República, o mais rico é
José Maria Eymael, com 5,1 milhões de reais declarados. Em 2010, quando
disputou o cargo pela terceira vez, o democrata-cristão possuía 3,1
milhões em bens, uma evolução de 64%. A candidata à reeleição Dilma
Rousseff apresentou o mesmo patamar de evolução: saltou de 1 milhão de
reais para 1,7 milhão. Quem mais acumulou posses nos últimos quatro anos
foi Aécio Neves, do PSDB. Seu patrimônio foi de 617 mil reais, em 2010,
para 2,5 milhões, alta de 303%. Entre os candidatos mais bem
posicionados nas pesquisas de intenções de voto, Eduardo Campos, do PSB,
engordou seu patrimônio em 5%.
Entre os cinco candidatos a governador mais ricos, a
elevação dos patrimônios impressiona. No topo da lista está o atual
deputado federal Eunício Oliveira, candidato ao governo do Ceará, com
patrimônio declarado de 99 milhões. De 2010 para cá, ele acumulou 62,3
milhões de reais. Outros dois candidatos tiveram aumentos
significativos: o pessebista Vanderlan Cardoso, de Goiás, saiu de 6,8
milhões de reais para 30 milhões, enquanto Ataídes Oliveira, do PROS de
Tocantins, praticamente dobrou seu patrimônio, que atingiu a cifra de 28
milhões de reais.
Na disputa ao Senado, encontramos o
candidato mais rico das eleições: o peemedebista Marcelo Almeida, do
Paraná. Herdeiro do Grupo CR Almeida, que reúne 30 empresas, ele
declarou ao TSE possuir 740 milhões de reais em bens. Seu patrimônio é
quase o dobro do segundo mais rico entre os pretendentes ao Senado, o
tucano Tasso Jereissati, com 389 milhões. Ambos pertencem à categoria
profissional mais comum entre os pretendentes: os empresários, que
correspondem a 9,2% dos inscritos. Eles são seguidos pelos advogados,
com 5,5% de representatividade, e por deputados e vereadores eleitos que
tentam a recondução a um cargo público, com 4,3% e 4,2%,
respectivamente.
Os eleitores interessados em utilizar as ferramentas e os
dados no TSE também saberão que quase metade dos políticos inscritos na
disputa deste ano possui ensino superior completo e mais de 70% deles
têm entre 35 e 60 anos. No espaço reservado os candidatos no site do
TSE, o cidadão encontrará as informações sobre os antecedentes criminais
de cada um. Nesse espaço, terá acesso, por exemplo, à ficha do deputado
federal Paulo Maluf. Embora não conste a informação sobre o candidato
aparecer na lista de procurados da Interpol, é possível confirmar que o
ex-governador é réu em 54 processos criminais e 24 ações por improbidade
administrativa apenas no estado de São Paulo.
Nestas eleições, Maluf
declara possuir 39 milhões de reais em bens. Não constam na declaração,
entretanto, os mais de 10 milhões de dólares bloqueados pela Justiça
suíça em uma conta supostamente abastecida com recursos desviados da
prefeitura de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário