Nascido no município de Angicos (RN),
mais especificamente em Pelo Sinal (um pequeno sitio), Francisco Canindé dos
Santos, hoje com 75 anos de idade e 47 de vida sacerdotal, chegou a Paróquia de
São João Batista de Assú no ano de 1966, a exatamente 47 anos serve ao povo de
Deus nesta paróquia. O considero um ícone, uma das últimas vozes proféticas
vivas em nosso meio. Homem culto, exímio orador e dono de uma capacidade de
exortação profunda, igualando-se ao saudoso Dom Hélder Câmara, ex-Arcebispo de
Recife e Olinda (PE).
Para este homem que abraçou a
vocação sacerdotal com muita responsabilidade, entendeu perfeitamente o
encontro do Evangelho com a vida. Optou por configurar-se a Cristo escolhendo o
serviço aos pobres. Viveu e lutou muito aproximadamente com as novas exigências
do Concílio Vaticano II, que mostrava ao mundo que a Igreja deve ser um sinal
da presença de Cristo no mundo, e esse sinal de comunhão com Cristo passa
preferencialmente pelos excluídos da sociedade.
Desde que chegou às terras do
Vale do Assú, foi dado a provações das mais diversas como: a perseguição pelo
regime da ditadura militar, que o considerava como um agitador ou subversivo,
chegando este a sofrer sérias retaliações por apresentar um comportamento
avesso à lógica do regime. Mas, como um incansável discípulo do mestre,
continuou anunciando e denunciando, exercício próprio de um profeta.
Lendo reportagens nesses dias
acerca do abandono a que chegou as terras do Baixo Açu, reporto-me ao ano de
1968 quando este sacerdote coerente com a vocação a qual abraçou, mobilizava a
sociedade civil organizada do Vale do Assú para debater junto aos governos do Estado
e Federal acerca da verdadeira viabilidade da construção da Barragem Armando
Ribeiro Gonçalves. Jamais colocou-se contra a construção do reservatório, mas
questionava de que forma os varzeanos seriam verdadeiramente beneficiados por
tal projeto. Interrogado o DENOCS, juntamente as outras esferas falavam de uma
política de distribuição de renda e beneficiamento.
Passados 35 anos de sua fundação
e funcionamento, a Barragem tem servido como instrumento de empobrecimento de
significativa parte da população ribeirinha. Claro que há inúmeros benefícios,
como o abastecimento das cidades, chegando hoje a servir o precioso líquido a
quase 45% das cidades do RN. Mas, do ponto de vista do desenvolvimento
sustentável nem de longe tem contribuído de forma justa com os mais pobres. A
oferta de água, fora do abastecimento, tem colocado-se a servido de empresas
multinacionais que exploram e empobrecem as nossas terras, gerando pouco
emprego e desenvolvimento, mas deixando marcas indeléveis como o desmatamento
da vegetação das carnaúbas e outras vegetais, causando a morte do Piranhas-Açu,
graças à poluição perene de suas águas por essas mesmas empresas e cidades que
jogam seus esgotos em seu leito e tantos outros problemas.
Um dado significativo da
desigualdade no Vale do Assú, é que a agricultura familiar tem desaparecido,
uma vez que o pequeno e médio agricultor não consegue plantar, pois a energia
para manter a plantação foge ao seu padrão de renda e viabilidade, ficando a
única opção por ingressar nessas empresas e torna-se um assalariado
empobrecido, enquanto as multinacionais aqui presentes obtêm lucros
exorbitantes a custa de um trabalho muitas vezes com regime escravista.
O que constata-se hoje em relação
aos inúmeros problemas entorno da questão dos projetos de irrigação nessas
terras do Vale do Assú, já era percebido por figuras memoráveis como Padre Canindé,
Terezinha Aranha e tantos outros, que lideravam um movimento de distribuição de
renda de forma equamine. Portanto, esse espanto de alguns políticos em visita a
essas áreas de irrigação e a constatação de seus problemas não é de hoje. Pena
que quando pleiteavam ocupar cargos como deputado, governo e senador, não
olharam para essa realidade gritante, de forma que contemplassem em seus
projetos de governo medidas que revertessem essa situação. Mas como faltam
poucos anos para a nova legislatura (2014), novamente revestem-se de
“salvadores da pátria”.
Precisamos urgentemente de líderes
do povo a exemplo de Padre Canindé. Olhemos o seu exemplo de serviço e
abracemos a missão a qual fomos chamados. Chega de olhar para o povo apenas
como massa votante, deixando seus problemas diários como elementos de discurso
que repete-se em quatro e quatro anos. Em 2014 precisamos de líderes políticos
mais ousados, com mente aberta, sobretudo ao diálogo com o povo e seus
representantes. Creio verdadeiramente que novos tempos virão.
Por Profº. Francisco Antônio
fcooliveirasouza@gmail.com
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